quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Under the Moonlight

A lua esconde-se no horizonte, está escuro, as árvores adornam as estrada, como que a sufocassem e fossem engolir tudo o que nela contém.
Passeio-me vagarosamente, alheio ao mundo que me rodeia...
Oiço vozes dizerem o meu nome, ora com dedo acusador, ora porque lhes está embutido no vocabulário...
A lua aparece discreta, dando um brilho prateado ao asfalto. O céu é límpido e negro... Apenas uma luz reina na abóbada celeste... essa luz que tantos já viram... luz baptizada com o meu nome...
Oiço vozes... multidões me chamam, querendo algo para si próprios, sede de vingança, desejo de poder, eterna beleza, bacanais, sodomia ou apenas querem sentir coragem para por fim a vida, enfim... almas perdidas que clamam por algo que lhes indique que vale a pena viver!
A lua vê-se finalmente na sua completa forma, está cheia. A escuridão é transformada num emaranhado de sombras que parecem vivas. Os meus olhos reflectem a luz das perdidas chamas de Erebus...Continuo o meu caminho...
Oiço vozes...sou acusado de todos os males da História, de todos os males pessoais... O meu nome é usado com advertência, como utensílio de medo, dando crédito e publicidade a uma vasta lista de barbáries. Dão-me mil nomes, mil imagens, mil adjectivos...
A lua está no seu esplendor máximo! Ofusca todas as outras luzes do céu, apenas o maior e mais virtuoso dos mortais sobrevive, adornado com o seu cinto estrelado. A estrada parece agora um rio de prata, com grandes muros negros em volta. Banho-me no meio de toda aquela luz... A minha pele brilha como se fosse parte integrante daquele caudal prateado... Estendo as minhas, outrora esplendorosas asas, agora negras de fatalidade...Olho a lua...
Oiço vozes... e não ligo! Caminho sozinho por entre as sombras... hoje mudei o mundo...


terça-feira, 23 de outubro de 2007

Last Breath


Acorda com suores frios… O quarto parece encolher a volta dele, tudo está turvo, uma dor agonizante acompanha-lhe todo o corpo… Prepara-se para gritar mas já não tem forças… Sente os músculos a retesarem-se… Está preso numa casca que julgava ser a sua… No fundo ele já sabe…
Está morto!
Os gritos da parceira ecoam quando descobre o corpo pálido e inerte estendido no chão!
(...)
Nada disto é novo, no entanto, não o percebo melhor por isso! Pessoas criam autênticas fés para contornar a incógnita da morte, fazem dela uma recompensa, e no fim, gritam e choram tresloucadas, no mais profundo egoísmo, quando ela finalmente bate a porta!
Tudo se esbate, tudo se esquece. O que era a pessoa é esquecida no momento em que isso seria crucial. Como pode ser uma boa homenagem a uma vida, parar por completo muitas outras que estão a decorrer? Como pode ser assim tão desprestigiante encarar como normal a morte de alguém? Porquê o desespero em volta de algo que já não pode ser feito, relegando para segundo plano todo o percurso feito?
No fundo não sou assim tão ingénuo, embora o desejasse. Quando algo lhes é arrancado, eles mantêm-no vivo, de qualquer forma que lhes seja possível. Se têm dificuldade em adaptar-se a algo novo, mudam-no até lhe parecer familiar. Nem sempre algo tão simples como um monte de carne e ossos é o suficiente para os libertar da apatia… Por isso mesmo da maneira trôpega e inocente que eles têm de ver as coisas… desde que isso lhes sirva de algo…
Respiro fundo….
(...)
A borracha aquece e desfaz-se no alcatrão… O chiar do metal retorcido acompanha o vento… Frio é aquilo que sente a entranhar-se no corpo… Não há dor… Uma golfada de sangue liberta-se e esvazia-lhe o peito… O olhar é vidrado e gélido….
Está morto!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Pele de Cordeiro


Agonia-me pensar na quantidade alarve de hipocrisia que transborda deste mundo! Pessoas maltratam, maldizem, desprezam, blasfemam…fazem o que querem, o que lhes dá prazer, tudo serve para alimentar os próprios interesses.
Tudo isto ser-me-ia agradável, mas não é! Toda a gente repudia aquilo que faz quando se torna por demais evidente que é a própria barriga que lhes interessa, fazer tudo apenas para si é pratica comum desde que a todo custo não se admita.
Sacerdotes duvidam e quebram os próprios votos, mas se tudo o que lhes sair da boca para fora for uma fé cega e dogmática, tudo passa despercebido. Lideres criam guerras para reservarem o seu nome nos livros de historia, no entanto, qualquer discurso patriótico sobejamente ouvido no passado por outros e noutras circunstancias, parece sacudir a inércia de muitos e grandes massas se levantam aplaudindo o seu representante máximo.
A propaganda instalou-se rapidamente… Dizem: “Fi-lo por vós”, “Fi-lo por ti”, “Penso no mais ’piqueno’, no mais graúdo, no velhadas que esta prestes a bater a bota e até no cão cuja raça desconheço” . Não importa a situação, só se admite as justificações centradas em algo ou alguém que não eles próprios, no entanto, no que a acção diz respeito, ninguém mexe um dedo se isso não os beneficiar em algo.
A evolução seria notória se cada um alimentasse seu ego de forma clara, em semelhança ao que acontece no mundo empresarial, todos tentam o seu lucro pessoal e acabam por ser, em conjunto, responsáveis pelo crescimento económico, devido a luta selvática a que são sujeitos e os obriga a auto superarem-se.
Mas no fim a inércia e a apatia vencem de novo… E lá irão eles usufruir da minha existência como bode expiatório…

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Judging Eyes

Estou num sitio alto, o vento força o meu cabelo dificultando-me a visão. Estou calmo e atento vendo vidas a passar , vidas que outrora foram a minha paixão, a razão de me intrometer no meio delas…
Vejo-me desapaixonado. O que vejo não me traz nada de especial, nem bom nem mau.
Vivi muitos anos, muitas eras, muitas gerações…Estive nos seus primeiros passos, nos primeiros erros, pactuei com os primeiros mestres, os primeiros lideres…Estive perto de tudo e no entanto não deixo de olhar para o mundo urbano com desdém…
Esta não foi a minha criação! Pessoas que parecem fazer tanta diferença como o vento, que toda a gente lhe reconhece a existência, todos o sentem mas ninguém pára para lhe dar atenção. Seguem como colóide uniforme por um declive, na sua falsa liberdade, tentando desesperadamente introduzir significado em tudo o como fazem, nunca deixando, apesar disso, de se sentirem miseráveis. Parecem ter perdido a capacidade de questionar, sendo de todas a capacidades que possuem aquela pela qual eu mais os admiro, e deixam se perder numa teia interminável de actos e acções. Sequenciais, ininterruptas, míseras, ocas… Os olhos mais não servem senão para desviar de obstáculos… Ouvidos não servem senão para manter alerta o que os olhos não atingem imediatamente… Palavras são ditas para queimar tempo…
Estou irado! Como posso eu ver neles tão escassas qualidades e no entanto escrever sobre eles?
Talvez queira que me reconheçam, que olhem para mim com olhar critico. No fundo espero de novo algo inesperado… Provaram no passado ser capazes de tal,embora nem sempre com o melhor dos resultados.
Agora mais que nunca… conseguirão eles provar que são especiais por conseguir ver que não o são? Um enorme teste conjura-se sem que se dê a perceber, como tempestade lendária que se forma bem antes de se conseguir ver as suas negras e brutais formas.
Conseguirão eles ver que sempre estiveram sozinhos?
Serão capazes de se libertar de significados?
Descobrirão eles que eu nunca existi?
Estou de volta…